Parque Estadual de Itaúnas: dunas, vida e marcas do tempo

Escrito por Geovanni Ribeiro Loiola
publicado em www.ultimosrefugios.com.br
Fotos de Leonardo Merçon

Parque Nacional de Itaúnas

A proteção de 3.670 hectares declarada em lei estadual de 1991 sob a forma do Parque Estadual de Itaúnas caracterizou um marco para a proteção da natureza do Espírito Santo e mundial, uma vez que a área protegida ligada ao mar e formada por 25 km de praias, rica biodiversidade e marcantes piscinas naturais em áreas alagadas é considerada Patrimônio Natural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e parte da Costa do Descobrimento. A proteção desse ambiente não significa que esteja isolado, havendo liberação de partes dele para visitas de pessoas. A palavra Itaúnas tem origem na língua tupi, significando “pedras pretas”, lembrando às pedras escuras encontradas no leito do rio Itaúnas, que corta a região.

Parque Nacional de Itaúnas

O encontro do rio Itaúnas com o mar marca a paisagem, enriquecida com dunas famosas, manguezais, áreas de restinga e partes que são berçários marítimos naturais e esconderijos seguros para muitas formas de vida. A flora é diversa, podendo se encontrar muitas moitas formadas por bromélias, que garantem estoque de água em um ambiente onde o sol impera. A fauna também é exuberante, incluindo capivaras, lontras, jacarés-de-papo-amarelo, jacupengas, jaguatiricas, macacos-prego, maritacas, papagaios, periquitos, preguiças, quatis, tatu, variadas espécies de cobras e diversos outros animais, inclusive ameaçados de extinção.

Parque Nacional de Itaúnas

Reconhecido como santuário ecológico, o parque também é fundamental na preservação de espécies de tartarugas marinhas, uma vez que quatro das cinco espécies encontradas no Brasil realizam desovas em seu território. Além da beleza natural, existe a riqueza histórica, formada por muitos sítios arqueológicos com vestígios de assentamentos humanos pré-históricos como pedras lascadas, cerâmica indígena e itens da época da colonização.

As manifestações culturais presentes na área de entorno do parque também garantem sua fatia de atenção, incluindo dramatizações e festejos como o Alardo, o Jongo de São Bartolomeu, as Pastorinhas e os Reis de Boi, em procissões e cortejos que passam animadamente pelas ruas de chão batido, além dos famosos festivais de forró.

A região abrigava uma típica vila de pescadores, semelhante às diversas encontradas ao longo da costa brasileira, levando uma vida normal em que os moradores realizavam atividades de caça de subsistência, pesca e pequenas movimentos comerciais, com o povo mostrando um dia-a-dia comum até a década de 50 do Século XX. A vida religiosa também estava presente, graças a uma pequena igreja e a presença de um pequeno cemitério. A colonização inicial da região remonta à época da primeira leva de navegantes ao Brasil.

Parque Nacional de Itaúnas

Além das pequenas casas, pequenas lojinhas e escola, o território apresentava de um lado o rio Itaúnas, funcionando como ponto seguro para canoas tradicionais dos moradores da vila, e enormes morros de areia contidos pela vegetação de restinga, mantendo as habitações e as praias separadas. Entretanto, com a retirada da vegetação a partir da década de 20 e intensificação na década de 40, graças à utilização de madeira para o uso em fogões à lenha e para a construção de casas de pau-a-pique por moradores da vila, o paraíso foi mudado.

A mansidão das dunas chegou ao fim, pois a falta de vegetação e a ação dos ventos litorâneos levaram o mar de areia até as casas, soterrando toda a vila entre os anos 50 e 70. Hoje existem dunas que atingem mais de 30 metros de altura e da velha cidade só restam às ruínas de algumas construções que aparecem, de vez em quando. Os constantes ventos também modificaram o rio Itaúnas que em ciclos anuais irregulares acaba emendando-se a caminhos de água que partem em direção aos barrancos de areia das margens criando lagunas coladinhas ao oceano, fervilhando em fartura de vida.

Parque Nacional de Itaúnas

Devido à alteração realizada pelo homem quase todas as casas foram transferidas para a outra margem do rio, com apenas uma resistindo entre as areias. A casa é habitada por “seu” Tamandaré e sua esposa, dona Lindanor. Uma das várias trilhas presentes no parque recebe o seu nome, havendo também outras como a Trilha do Buraco do Bicho, do Rio, das Borboletas, das Ruínas, dos Pescadores e da Alméscar.

Parque Nacional de Itaúnas

Caracterizada como uma área em constante mudança, o parque só tem o seu valor aumentado devido às surpresas que guarda, havendo visitas frequentes de pesquisadores buscando fortalecer a preservação da fauna, da flora e das paisagens, registrando espécies, inúmeros artefatos e manifestações culturais.

Print Friendly, PDF & Email

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.