Foto de Vinicius Nunes
A Ingaia Ciência
A madureza, essa terrível prenda
que alguém nos dá, raptando-nos, com ela,
todo sabor gratuito de oferenda
sob a glacialidade de uma estrela,
a madureza vê, posto que a venda
interroga a surpresa da janela,
o círculo vazio, onde se estenda,
e que o mundo converte numa cela.
A madureza sabe o preço exato
dos amores, dos ócios, dos quebrantos,
e nada pode contra sua ciência
e nem contra si mesma. O agudo alfato,
o agudo olhar, a mão, livre de encantos,
se destroem no sonho da existência.
(Carlos Drummond de Andrade – Claro Enigma)
A Ingaia Ciência
“Um exuberante microcosmo da Mata Atlântica de 77 mil metros quadrados, o Museu Mello Leitão foi fundado por Augusto Ruschi em 26 de junho de 1949. Um bilhete enviado pelo patrão de seu pai apresentava-o ao professor Cândido Firmino de Mello Leitão, do Museu Nacional do Rio: “Esse moleque é semianalfabeto mas conhece todos os bichos e plantas. Vê se ele dá para alguma coisa”.
Graças ao conhecimento acumulado desde os 12 anos apenas metendo-se nas matas, o naturalista capixaba virou pesquisador da respeitada instituição em 1937. E assim nasceu o nome de batismo do Mello Leitão, uma homenagem de Ruschi a seu mestre.
O casarão de dois pavimentos em que um dia viveu (& estudou & pesquisou) Ruschi hoje abriga, na parte superior, a Administração Geral do museu. Dependurados no telhado da pequena varanda, seis ou sete bebedouros de beija-flor provocam um frenético tráfego aéreo. Os muitos beija-flores cortam o ar a mil por hora, dando vôos rasantes sobre nossas cabeças.”
Henrique Alves
Do Poema de Drumond a reportagem de Henrique Alves publicada hoje no Século Diário, o mesmo sabor poetico de uma impotência que não se rende aos fatos.