Redes sociais e a comunicação científica

(Clarissa Vasconcellos – JC)

Medidas tradicionais como a contagem de citações de artigos já não são as únicas para avaliar o impacto de um trabalho. Compartilhamentos e textos adicionados a redes específicas começam a ser vistos como índices relevantes. Ainda há resistência. Mas, pouco a pouco, pesquisadores vão deixando de ver as redes sociais com tantas ressalvas e encarando-as como ferramentas úteis não apenas para a divulgação de seus trabalhos, mas também como medidoras de diferentes aspectos de uma pesquisa.

Essa foi uma das conclusões do Seminário de Introdução ao Uso das Redes Sociais na Comunicação Científica, realizado no dia 22 de agosto, no Rio de Janeiro. O evento era destinado a profissionais da ciência da informação e comunicação científica, pesquisadores, bibliotecários, entre outros.

O biólogo e blogueiro Átila Lamarino e o coordenador do Programa Scientific Electronic Library Online – SciELO/Fapesp, Abel L. Packer, mostraram que tanto redes populares como Twitter e Facebook, quanto mais específicas como a Mendeley e CiteULike (para citações) são cada vez mais utilizadas como filtro de conteúdo para informação relevante também dentro da ciência.

Lamarino foi um dos responsáveis pela implantação da versão brasileira do portal Science Blogs, que atualmente reúne mais de 40 blogs científicos no País. “O blog é um ótimo filtro social para encontrar pessoas muito interessadas em certos assuntos”, alega.

Entrando no tema das redes, ele sustenta que se trata de um universo “interativo, imprevisível e inevitável”, com o qual todas as áreas terão que conviver. Abel Packer lembrou que o Brasil é o 13º produtor mundial de artigos indexados e que as redes são importantes para aumentar o
número de citações a trabalhos brasileiros no exterior.

Lamarino conta que as redes sociais acrescentam “novas camadas de métricas de impacto da pesquisa”, de forma “muito mais dinâmica”. Agem como instrumentos que ajudam a coletar informação sobre o que acontece no período entre a publicação de um artigo e a contagem de
citações aferida. Compartilhamentos de artigos nas redes, comentários e a medição do número de acessos são algumas dessas chamadas ‘novas camadas métricas’ para se avaliar o impacto de um trabalho, indo mais além da tradicional contagem de citações.

“O marketing científico e acadêmico existe e é necessário e uma de suas ações é a participação nas redes sociais. É preciso tornar nossos periódicos mais contemporâneos”, opina Abel Packer. Nesse sentido, Lamarino lembra que há diversos casos de artigos “populares”, muito lidos ou muito compartilhados, que não rendem citações ou mesmo artigos, mas que são citados em apresentações (o que pode ser
rastreado via Slideshare), o que, na opinião do biólogo, deveria ser visto também como um indicador de relevância.

Além de representarem ferramentas para medições, as redes também ostentam atualmente um conhecido papel de agentes mobilizadores. O biólogo lembra que só o Twitter tem 200 milhões de usuários e que São Paulo é a cidade mais ativa no microblog, e mostrou no seminário alguns exemplos que comprovam esse poder das redes também no âmbito da ciência.

No entanto, há uma preocupação a respeito da legitimidade do conteúdo disponibilizado em blogs e redes. Para minimizar a divulgação de informação falsa e incompleta na ciência, Lamarino propõe a criação de comunidades para o compartilhamento de conhecimento, como ocorre, por exemplo, no site Scienceblogging.org. Essa mudança de paradigmas na divulgação de informações atinge em cheio o trabalho
não só dos cientistas, mas também o dos que trabalham em divulgação científica.

Lamarino lamenta que, paralelamente a isso, o jornalismo científico esteja diminuindo de qualidade, já que o número de especialistas nas redações está cada vez mais reduzido e pressionado por demandas de audiência. “Infelizmente é uma tendência mundial”, pontua.

Fonte: Jornal da Ciência de 31 de agosto de 2012
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