Coleções Biológicas – entrevista II

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Dando continuidade a esta série a SAMBIO apresenta a entrevista realizada com a Dra. Carla Simone Pavanelli do NUPELIA.

20130825-1SAMBIO: O que é o NUPELIA?

Carla: O Núcleo de Pesquisas em Limnologia, Ictiologia e Aquicultura (Nupélia) congrega mais de 20 laboratórios especializados em diferentes áreas de estudos de organismos aquáticos, sobretudo os continentais, ou do seu entorno, que interagem em projetos conjuntos ou complementares, ou colaboram em projetos individualizados, conferindo uma interdisciplinaridade ímpar ao grupo. Neste ano de 2013 o Nupélia está completando 30 anos de fundação.

SAMBIO: Qual seu nome, formação acadêmica e função no NUPELIA?

Carla: Meu nome é Carla Simone Pavanelli, sou graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Maringá, onde também fiz uma especialização em Ecologia. Cursei o mestrado em Ecologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro, sob orientação da Dra. Érica P. Caramaschi e o doutorado na Universidade Federal de São Carlos, sob orientação e co-orientação dos Drs. Júlio C. Garavello e Heraldo A. Britski, respectivamente. Mais recentemente fiz um estágio de pós-doutoramento na Smithsonian Institution, em Washigton DC, sob a supervisão do Dr. Richard Vari. Desde 1988 sou bióloga e curadora da Coleção Ictiológica do Nupélia. Atualmente também estou como Coordenadora Científica do Núcleo.

SAMBIO: Quais as Coleções Biológicas existentes no NUPELIA?

Carla: Além da Coleção de Peixes, o Nupélia também possui uma Coleção de Ovos e Larvas de Peixes de Água Doce, além de um Herbário especializado em vegetação ripária.

SAMBIO: Qual a importância destas Coleções para os Programas de Pós Graduação?

Carla: As coleções oferecem suporte para os Programas da Universidade Estadual de Maringá e de outras instituições de ensino superior, tanto fornecendo material de estudo ou comparativo, quanto depositando material testemunho destas pesquisas. Estudantes dos Programas da Universidade Estadual de Maringá e de diversos outros de instituições do Brasil têm se beneficiado dos acervos do Nupélia..

Carla: Qual a importância destas Coleções para o restante da comunidade acadêmica e científica?

Carla: Como as coleções disponibilizam seu material para todas as instituições de ensino e pesquisa, temos efetuado empréstimos e intercâmbios de material com diversas instituições do Brasil e do exterior, assim como temos recebido visitas para exame de material de estudantes e pesquisadores de muitas instituições. Inúmeros trabalhos de dissertações e/ou teses utilizaram-se do material das coleções do Nupélia. Além disso, estudantes da Universidade Estadual de Maringá e de outras instituições onde os pesquisadores as Coleções do Nupélia são credenciados têm frequentado os laboratórios das Coleções e desenvolvido seus trabalhos, tanto em nível de graduação, como de pós-graduação. Centenas de trabalhos de conclusão de curso, dissertações, teses e artigos têm sido desenvolvidos nestes laboratórios ao longo dos 30 anos do Nupélia.

SAMBIO: Qual a importância destas Coleções para a sociedade?

Carla: A sociedade tem tido um benefício direto pouco expressivo das Coleções do Nupélia, na minha opinião, sobretudo porque o Núcleo não possui um espaço de exposição disponível para visitas de pessoas de fora da comunidade científica. No entanto, na medida do possível, temos adotado práticas de divulgação das coleções na mídia, além de contribuir com revistas e jornais que pedem informações pontuais sobre determinadas espécies. As coleções propriamente ditas também contribuem com a sociedade emprestando material de réplicas para feiras de ciências e exposições, quando solicitado. Entretanto, indiretamente, a sociedade em geral tem sido beneficiada à medida que novas espécies têm sido descritas, complementando o conhecimento que se tem da biodiversidade que a cerca. Da mesma maneira, a simples presença do acervo, que contempla coletas em regiões que têm sido muito rapidamente antropizadas e alteradas pela construção de barragens, constituindo-se num legado que auxiliará no entendimento das comunidades biológicas no futuro, é um benefício indireto para a sociedade.

SAMBIO: Qual o papel e significado de um Curador de uma Coleção Biológica?

Carla: O Curador de uma Coleção Biológica tem o papel de zelar pela perpetuação do acervo e fidedignidade de seus dados, determinar o que pode ser depositado e o que pode ser emprestado ou intercambiado com outras instituições, assim como de implantar políticas e ferramentas que permitam estas práticas. O Curador sempre deixa sua característica pessoal no acervo depositado e na sua utilidade pela comunidade. Seu conhecimento sobre o grupo biológico, trabalhos e pessoas que estão desenvolvendo estudos sobre o acervo da Coleção são fundamentais para seu bom gerenciamento.

SAMBIO: Um único Curador atende a todos os grupos biológicos ou é conveniente um Curador para cada grupo? Por quê?

Carla: Devido às peculiaridades de cada grupo e consequentemente de cada Coleção, é imperativo que haja um Curador para cada uma, que tenha suficiente conhecimento sobre o grupo para poder tomar as decisões que são inerentes à sua função. Um Curador único para grupos diferentes provavelmente seria uma pessoa que tem conhecimento superficial sobre cada acervo e pouca ou nenhuma experiência sobre os estudos e os pesquisadores que têm se dedicado a cada grupo. Isso certamente prejudicaria o gerenciamento das coleções de organismos sob sua curadoria que não sejam de sua especialidade. As Coleções do Nupélia têm Curadores específicos de cada área.

SAMBIO: Quais as demais funções necessárias em uma Coleção Biológica? Que níveis de formação são recomendáveis para cada função?

Carla: O Curador deve ser uma pessoa que tenha certo destaque na pesquisa, preferencialmente com doutorado e credenciado a algum Programa de pós-graduação, que possa proporcionar o convívio de estudantes de diferentes categorias no laboratório da Coleção, e que tenha disposição e produção que possibilite a obtenção de recursos através da aprovação de projetos junto aos órgãos de fomento. Além do Curador, uma Coleção deve possuir pessoal técnico especializado que lhe dê suporte no gerenciamento e manutenção dela, com níveis de formação diferenciados, dependendo da sua função na Coleção, desde a pessoa que limpa o acervo, embala material e prepara reagentes, até aquela que auxilia no gerenciamento e cuida dos documentos, que necessita de um nível de formação superior. Pesquisadores que possam contribuir com ideias, além de revezar na função da Curadoria, também são importantes para imprimir um destaque ao grupo de dá suporte àquela Coleção e para aglutinar estudantes que contribuam para a coleta, atualização e validação das espécies dos acervos.

SAMBIO: Quais são hoje as principais dificuldades que as Coleções Biológicas brasileiras atravessam hoje em dia?

Carla: Além das dificuldades relativas à falta de espaço físico, de infraestrutura de segurança e/ou de informática, os recursos humanos também estão escassos nas instituições públicas, que dependem de autorização dos governos para abertura de concursos para contratação. Coleções pertencentes a instituições de ensino superior e não a Museus Institucionais também têm tido problemas de reconhecimento dentro das próprias instituições. Rubricas do orçamento destinadas à manutenção das Coleções também são praticamente inexistentes, sobretudo nas instituições de ensino superior.

SAMBIO: Quais as formas de superar estas dificuldades?

Carla: Participações em atividades coordenadas por órgãos de fomento e por entidades governamentais, procurando promover uma conscientização e sensibilização deles para as Coleções, além de comunicação e ações em conjunto com outras instituições em situação similar são atitudes que temos realizado no Estado do Paraná, sobretudo com a ação da rede Taxonline (http://www.taxonline.ufpr.br/), coordenada pela Dra. Luciane Marinoni, da UFPR. Estratégias de divulgação e sensibilização dos dirigentes de cada Instituição também têm sido discutidas e implementadas na medida do possível, incluindo a incorporação das Coleções em regimentos e regulamentos institucionais. Recursos obtidos através de projetos contemplados de órgãos de fomento à pesquisa aos Curadores e pesquisadores das Coleções têm sido responsáveis pela manutenção da maior parte das necessidades das coleções, enquanto não se destina uma rubrica orçamentária especificamente para este fim pelos governos mantenedores.

SAMBIO: Você conhece as Coleções Biológicas do Museu de Biologia Mello Leitão? Qual a importância destas coleções no cenário nacional?

Carla: Conheço através da divulgação dos Boletins e de redes sociais, mas, pessoalmente, infelizmente ainda não. Espero ter uma oportunidade para isso eventualmente. Entretanto, pelo que conheço através dos meios supramencionados, vocês têm promovido uma grande interatividade com a comunidade, além de conseguir o reconhecimento do Museu nos órgãos públicos, que é o que almejamos aqui, além de contribuir com a comunidade científica publicando trabalhos sobre as espécies depositadas na Coleção, sobretudo as do Estado do Espírito Santo. Parabenizo a todos pelo trabalho e desejo muito sucesso a vocês!

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Um comentário em “Coleções Biológicas – entrevista II

  1. Conheci pessoalmente a Carla em 1991 na base de pesquisas do Nupelia em Porto Rico, no rio Paraná. Desde então tenho mantido correspondência regular com ela e acompanhado sua trajetória. Ela representa um grupo especialmente importante na Ictiologia pois tem produzido muito e nos trazido informações valiosíssimas sobre a ictiofauna brasileira. Importante frisar que o Núcleo também possui uma característica muito peculiar e nada comum em outras entidades: a perpetuação – a partir da gerações de cientistas – do interesse, senso crítico e competência. O Nupelia, graças ao trabalho dos pesquisadores que lá atuam (exemplificados pela Carla), representam um modelo contínuo e produtivo de produção científica.

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