População de macacos ameaçados de extinção cresce cinco vezes em reserva

Muriqui-do-norte: maior primata do Brasil, tem como habitat áreas de Mata Atlântica

Muriqui-do-norte: maior primata do Brasil, tem como habitat áreas de Mata Atlântica

Aumento da população de muriquis-do-norte, o maior primata do Brasil, é resultado de 30 anos de trabalho em reserva de Caratinga, em Minas Gerais

Após 30 anos de trabalho na Reserva do Patrimônio Natural Feliciano Miguel Abdala, em Caratinga, Minas Gerais, os números apresentados pela antropóloga Karen Strier, da Universidade de Wisconsin-Madison, mostram uma história bem-sucedida de preservação. No período, a população de macacos muriquis-do-norte que habita a reserva localizada no município mineiro de Caratinga aumentou cinco vezes, de 60 para 300 indivíduos. Os resultados foram divulgados na edição desta semana do periódico científico PLOS ONE.

Como se trata de uma espécie “criticamente em perigo de extinção”, cuja população conhecida não passa de 1.000 animais espalhados por uma dúzia de diferentes fragmentos da Mata Atlântica em Minas Gerais e no Espírito Santo, o salto populacional é, numa primeira leitura, animador. “Para um macaco ameaçado de extinção, é muito positivo”, avalia o professor de zoologia da Universidade Federal do Espírito Santo Sérgio Lucena, que há 10 anos acompanha as pesquisas de Karen em Caratinga.

Estudo detalhado — O professor explica, no entanto, que a importância do estudo publicado pela antropóloga em parceria com o ecologista e matemático Anthony Ives na PLOS ONE vai além da surpreendente recuperação de muriquis-do-norte na reserva. O texto de Karen sintetiza três décadas de acompanhamento demográfico dessa espécie em Caratinga, um nível de detalhamento que só existe em outras seis reservas de primatas no mundo. Isso significa, afirma o professor da Federal do Espírito Santo, que a reserva pode se tornar um modelo de estudo sobre o comportamento demográfico de primatas que correm risco de desaparecer. “Esse trabalho apresentou alguns resultados que fogem dos padrões teóricos esperados. Saber se espécies ameaçadas de extinção podem se comportar de forma inesperada é muito importante”, afirma.

Entre as tendências demográficas consideradas fora do padrão, uma das mais interessantes foi o crescimento simultâneo das taxas de fertilidade (a quantidade de filhotes que cada fêmea gera) e mortalidade. Afinal, um maior número de macacos disputando os mesmos recursos em área limitada – a reserva Feliciano Miguel Abdala conta com pouco mais de 900 hectares – tenderia a conter a fertilidade. Aconteceu exatamente o contrário. Por quê?

Uma das teorias levantadas pela antropóloga para justificar o fenômeno é que foi observada, nas últimas décadas, uma mudança de habitat. Não havendo alimentos para o novo contingente populacional no topo das árvores, os macacos passaram a buscar comida também no solo. Isso aumentou a fecundidade das fêmeas, mas teria sido incapaz de conter o aumento da mortalidade porque, no chão, os muriquis são alvos mais fáceis para jaguatiricas e onças pardas, além de estarem sujeitos a mais doenças pela ingestão de frutos podres. A pesquisa calcula que, caso a fertilidade tivesse seguido a “teoria” e retraído, o grupo desses macacos seria hoje de 200 indivíduos em Caratinga.

Onde estão as fêmeas? — Outro comportamento imprevisto constatado foi uma súbita inversão na proporção entre machos e fêmeas. Nos primeiros anos, um terço dos nascimentos era de macacos machos. Hoje, essa razão é de dois terços. “Nos primeiros dez anos, nasceram mais fêmeas do que machos. Isso fez com que a fertilidade global do grupo aumentasse muito”, diz Lucena. Ele afirma que, como se trata de um número reduzido de macacos, essa inversão pode ter ocorrido por acaso, sem qualquer interferência externa.

Com esses dois fatores, a tendência é que a população de muriquis-do-norte agora pare de crescer, podendo até declinar. “Uma população pequena, num desses declínios, pode não conseguir se reestabelecer”, afirma Lucena. Falando ao site da universidade de Winsconsin, Karen sugeriu uma solução. “Sabemos exatamente o que precisa ser feito apara aliviar isso: expandir a área da reserva.”

Fonte: http://veja.abril.com.br

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