Quem são os muriquis?

Muriqui

Muriqui. (Foto: Divulgação/CI)

Sérgio Lucena Mendes
Primatólogo e Professor de Zoologia da UFES

Muriqui, mono ou mono-carvoeiro são nomes populares dados aos macacos do gênero Brachyteles. Eles são considerados os maiores primatas das Américas e são naturais, exclusivamente, da Mata Atlântica brasileira.

Atualmente duas espécies são reconhecidas, o muriqui-do-sul, B. arachnoides, e o muriqui-do-norte, B. hypoxanthus. Ambos são ameaçados de extinção, principalmente por causa do desmatamento e caça predatória. Os muriquis-do-sul ainda são encontrados em remanescentes de matas nos estados do Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro. Os muriquis-do norte ocorrem em matas isoladas nos estados de Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro, mas foram virtualmente extirpados do sul da Bahia.

Muriqui, buriqui, miriqui ou miriquina são variações de um nome de origem tupi, cujo significado não está satisfatoriamente esclarecido. Nos últimos 10 anos popularizou-se a crença de que muriqui significa “povo manso da floresta”. Sem dúvida é uma expressão que lembra a sociedade muriqui, caracterizada pela baixa agressividade. De certa forma, é um nome que vem ao encontro de nossos ideais de uma sociedade pacífica e igualitária, de maneira que é compreensível que tenha sido tão bem aceito. Mas há outras etimologias a considerar.

O historiador Teodoro Sampaio, em seu livro “O tupi na Geografia Nacional”, sugere que muriqui significa “gente suja”, que pode ser uma alusão ao fato de alguns desses macacos terem manchas na pelagem. Outra possível tradução é “gente que bambaleia, que vai e vem”. Quem já observou os movimentos dos muriquis, sabe que essa descrição cai perfeitamente para a eles. Sua locomoção do tipo braquiação, típica dos macacos da subfamília Atelinae, e dos gibões asiáticos, realmente passa aquela imagem de um ser que bambaleia, que se balança de um lado para o outro.

Cabe lembrar que, segundo o zoólogo Alvaro Aguirre, o nome “mono” é o mais comum por toda a área de distribuição dos muriquis. Em alguns lugares, usa-se “mono-carvoeiro”, a que Aguirre atribui ao fato de alguns exemplares terem manchas escuras no corpo, lembrando um trabalhador de carvoaria. Mono, evidentemente, significa macaco, e é provável que seja uma simplificação de “mono-carvoeiro”. Aguirre também cita outros sinônimos, como “mono-cavalo”, que certamente deve-se à vocalização que lembra um relincho, enquanto o naturalista Augusto Ruschi informa que os índios botocudos chamavam esse primata de “koupo”. O príncipe Alemão Maximiliano de Wied Neuwied, em seu tratado de zoologia publicado em 1826, já citava o termo “kupó”, usado pelos botocudos. Em Santa Maria de Jetibá, Espírito Santo, os descendentes de pomeranos chamam os muriquis de “wita oop”, que significa macaco branco e, eventualmente, “mona-branca”.

No município de Guarapari, Espírito Santo, há uma localidade denominada Muriquioca que, em tupi, provavelmente significa “morada dos muriquis”. Alvaro Aguirre, em publicação de 1971, conta que na Fazenda Muriquioca havia seis muriquis em uma mata de 170 hectares no ano de 1966. Com o desmatamento de 5 hectares, onde havia bons alimentos para os macacos, o pequeno bando desapareceu. Esta, infelizmente, foi a sina de milhares de muriquis que tinham, como morada, a Mata Atlântica brasileira.

Fonte: http://www.capitaglobalnews.com.br
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