As Palavras da SAMBIO

Na cerimonia que comemorou a criação do Instituto Nacional da Mata Atlântica, a Presidente da SAMBIO usou da palavra, para dar um recado de toda a Diretoria e Conselho da SAMBI0. Reproduzimos abaixo suas palavras:

20140601

Boa noite!

Em nome da Associação de Amigos do Museu Mello Leitão, cumprimento a todos os participantes,e as autoridades presentes. Optei por não falar de improviso e sim por ler um texto, pois assim pude me assegurar com antecedência que este texto correspondia com o desejo de toda a Diretoria e de Conselheiros.

A SAMBIO foi criada a mais de 25 anos e neste período tem vivenciado diversas etapas que correspondem à disposição e a disponibilidade das pessoas que abraçam sua causa. Esta nossa etapa iniciou-se em 07 de outubro de 2009, com a aprovação de um novo estatuto e um novo Conselho.

Como primeiro compromisso e após debate entre os Conselheiros, os antigos associados e os funcionários do Museu, a SAMBIO assumiu a luta pela criação do Instituto Nacional da Mata Atlântica e transferência do Museu do Ministério da Cultura para o de Ciência, Tecnologia e Inovação. Não foi uma nova bandeira, foi apenas um acréscimo a uma luta que já havia se iniciado a mais de 10 anos.

Todos os Conselhos e Diretorias formados posteriormente mantiveram este objetivo como seu norte principal. E agora após a aprovação, continuamos firmes neste caminho para que o processo possa se consolidar.

É comum considerar-se utopia, todas aquelas ideias e programas, que se afastam do “status quo”. Mas uma associação, principalmente uma criada para dar continuidade a “utopia” de Augusto Ruschi, tem direito e obrigação de guiar-se por objetivos que transcendam a simples repetição de práticas automáticas.

Por esta razão, queremos aproveitar o dia de hoje para fazer um apelo, aos que serão os responsáveis por dar forma a esta nova instituição. Por criar o Instituto Nacional da Mata Atlântica.

Vamos procurar não transformar o Museu em mais uma destas Instituições mergulhadas em normas e hierarquias que afogam a criatividade e espontaneidade. O Mello Leitão, desde sua própria criação, vem mostrando que é possível operar em outras dimensões, do que as dos sistemas burocráticos.

Baseada na “utopia” de Augusto Ruschi, não só mostrou viabilidade de outros caminhos para a criação de um Museu, como a possibilidade de este influenciar em toda a formação histórica de uma localidade. Santa Teresa hoje é sem dúvida, um pequeno oásis ambiental graças, a presença do Museu e seu ideal.

O Museu, mesmo a longo tempo praticamente sem renovação oficial de seus quadros e minguados recursos tem dado mostras de sua vitalidade. Tem demonstrado a possibilidade de se operar também com outros recursos.

Precisamos refletir sobre: Como, mesmo com todas estas dificuldades, o Museu consegue ser um dos polos mais importantes de Difusão Científica e Educação Ambiental do Estado? Como consegue manter uma coleção biológica de grande importância para a comunidade científica, mesmo sem ter nenhum dos requisitos estabelecidos, durante o debate de ontem, ressaltados pelos colegas palestrantes e conhecedores do problema, com o mínimo para a gestão de uma coleção? Como consegue organizar eventos como o SIMBIOMA, praticamente sem nenhum recurso oficial?

Não temos dúvidas em responder estas questões. Porque contrariamente a tudo o que o Sistema atual tende a nos incutir, as pessoas são profundamente generosas. As pessoas tem um grande prazer em construir aquilo em que acreditam. Lógico que todos precisam de recursos para viver e por esta razão as Instituições não podem subsistir apenas do trabalho voluntário.

Mas precisamos encontrar um caminho que não mate este entusiasmo natural das pessoas, que não transforme uma instituição de pesquisas e divulgação científica em mais uma instituição carreirista.

Nenhuma das pessoas que se arriscaram durante as enchentes para salvar as coleções, os animais e as plantas deste museu, o fizeram por salário. Mesmo porque a maioria era voluntária. Os estudantes, organizadores e pesquisadores que se deslocam de longe para anualmente vir a Santa Teresa participar do SIMBIOMA, não o fazem por retribuições, mesmo porque na maioria das vezes o máximo que tivemos para oferecer foram os alojamentos do Museu. “Este ano estamos conseguindo oferecer um pouco mais, graças a parceria com a SECT”.

Acreditamos firmemente que a maior motivação será sempre a liberdade de ação e o desejo de cada um de realizar. Por esta razão, apelamos aos que irão dar forma a este novo Instituto que tenham a coragem de Augusto Ruschi.

Que tenham a coragem de inovar e de acreditar. Que principalmente criem uma nova estrutura que reforce nossos trabalhos, mas que não transformem nosso querido Museu de Biologia Melo Leitão em mais um Instituição de normas, regras e hierarquias, sem vida e sem ligação viva com seus atores.

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