Coleções Biológicas-entrevista VI

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A Amazônia com uma biodiversidade que ainda desafia nossos pesquisadores foi o ambiente desta nossa sexta entrevista. A SAMBIO, conversou com a pesquisadora Lúcia Helena Rapp Py-Daniel do INPA.

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SAMBIO: O que é o INPA?

Lúcia: O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia é órgão da administração direta ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovação, criado em 1954 em Manaus com a finalidade de realizar o estudo científico do meio físico e das condições de vida da região amazônica, tendo em vista o bem estar humano e os reclamos da cultura, da economia e da segurança nacional.

SAMBIO: Qual seu nome, formação acadêmica e função no INPA?

Lúcia: Lúcia Helena Rapp Py-Daniel
Bióloga formada pela UnB, mestrado em Biologia Aquática pelo INPA e Doutorado em Ecology and Evolutionary Biology/Universidade do Arizona,EUA
Função no INPA: pesquisadora.

SAMBIO: Quais as Coleções Biológicas existentes no INPA?

Lúcia: Coleções Zoológicas: Peixes, Aves, Mamíferos, Invertebrados e Herpetológica (Repteis/Anfíbios/Quelônios/Squamata)
Coleções Botânicas: Herbário com col. de Angiospermas, Macrofungos, Carpoteca e Xiloteca
Coleções Microbiológicas: de Interesse Medico, com coleções de vírus, micobacterias, leishmanias e tripanossomas, e fungos patogênicos; e de Interesse Agrossilvicultural.

SAMBIO: Qual a importância destas Coleções para os Programas de Pós Graduação?

Lúcia: As coleções servem de base para identificações de táxons e para depósito de amostras de material biológico trabalhado em dissertações e teses; servem de base para revisões taxonômicas e análises filogenéticas; servem de material testemunho para trabalhos moleculares e citotaxonômicos, dentre outros. As coleções do INPA são fieis depositarias junto ao CGEN (Conselho de Gestão do Patrimônio Genético), órgão colegiado que gerencia a implementação da legislação ambiental brasileira desde 2003. Como Fieis Depositárias, recebemos também amostras de material que sofreu acesso ao Patrimônio genético, associado ou não a Conhecimento Tradicional, com ou sem fins comerciais, para fins de manutenção e gerenciamento governamental.

Lúcia: Qual a importância destas Coleções para o restante da comunidade acadêmica e científica?

Lúcia: Por se tratar de uma das maiores coleções amazônicas na Amazônia, mais especificamente, no centro da Amazônia, as coleções do INPA ganham um destaque muito especial pela praticidade e acessibilidade de seus Acervos às comunidades científicas, acadêmicas e leigas da Amazônia. Ademais, as coleções do INPA apresentam uma representatividade biogeográfica sem paralelos.

SAMBIO: Qual a importância destas Coleções para a sociedade?

Lúcia: Apesar de não ser uma coleção aberta ao pública (nossas coleções são fundamentalmente cientificas), colaboramos com escolas de ensino médio e fundamental através de empréstimos de amostras das coleções Didáticas, assim como com universidades e setores de fiscalização ambiental e outros (IBAMA, Secretaria de desenvolvimento Sustentável, órgãos da saúde, dentre outros). Através de levantamentos dos nossos acervos é possível apontar áreas de lacuna de conhecimento, áreas prioritárias para preservação e manejo, áreas sob ameaça eminente e outras aplicações do conhecimento da biodiversidade, alem da academia. Nosso material ainda serve de apoio a cursos e treinamentos das Forças Armadas da região.

SAMBIO: Qual o papel e significado de um Curador de uma Coleção Biológica?

Lúcia: Zelar e cuidar para que seu acervo se mantenha atualizado e nas melhores condições possíveis para que seja disponibilizado para a sociedade.

SAMBIO: Um único Curador atende a todos os grupos biológicos ou é conveniente um Curador para cada grupo? Por quê?

Lúcia: Diferentes coleções (Aves, Fungos, Peixes, Parasitas) tem diferentes especificidades de manutenção (preservação em meio liquido, preservação de peles, preservação de lâminas, preservação de cepas vivas, p. ex.) e consequentemente diferentes atividades concernentes a sua manutenção. Um único curador para várias coleções pode resultar em detrimento de manutenção e qualidade de seu acervo, pela dificuldade em atender as diferentes especificidades necessárias de cada acervo. Acervos muito grandes ficam muito prejudicados pela falta de cuidados adequados. Gerenciamento de grandes e distintos bancos de dados também pode ser um grande desafio para um único curador. Idealmente, cada coleção deve ser mantida por um curador (as vezes, dependendo do tamanho do acervo, até por mais de um curador).

SAMBIO: Quais as demais funções necessárias em uma Coleção Biológica? Que níveis de formação são recomendáveis para cada função?

Lúcia: As coleções, alem do curador, necessitam técnicos para auxiliar na curadoria dos acervos. Podem existir Assistentes de Curadoria – técnicos de alto nível para auxiliar o curador; técnicos de nível médio, para ajudar na limpeza e organização constantes de vidros e material depositado; técnico em informática, para ajudar na ampliação e adequação de bancos de dados do acervo, manutenção de softwares e hardware; preparadores de esqueletos, taxidermistas e outros.

SAMBIO: Quais são hoje as principais dificuldades que as Coleções Biológicas brasileiras atravessam hoje em dia?

Lúcia: Um pais como o Brasil, megadiverso, tende a ter grandes acervos. Se não os tem é por falta de recursos humanos e financeiros, pois biológicos temos sobrando. A falta de cursos voltados para a formação de taxonomistas e curadores é evidente entre as nossas coleções. A não-valorização dos nossos acervos e do trabalho realizado para a manutenção dos mesmos também é um grande desafio. Precisamos de políticas de preservação/conservação que fomentem a ampliação, manutenção, segurança e capacitação pessoal para um bom funcionamento e guarda dos nossos acervos.

SAMBIO: Quais as formas de superar estas dificuldades?

Lúcia: Promover junto aos governos federal, estadual e municipal a consciência da necessidade de preservação da história pretérita e atual da nossa biodiversidade, através de programas de fomento, editais direcionados a coleções e formação de taxonomistas, incentivo a formação de novos cursos em taxonomia e curadoria, incentivo ao desenvolvimento da informática na integração e articulação de grandes bancos de dados biológicos, promoção de uma maior integração entre instituições que congregam coleções pois todas devem falar a mesma “língua” para haver trocas de informações mais facilmente, promoção da disponibilização dos dados de coleções para as sociedades acadêmica, cientifica e leiga.

SAMBIO: Você conhece as Coleções Biológicas do Museu de Biologia Mello Leitão? Qual a importância destas coleções no cenário nacional?

Lúcia: Não, mas gostaria de conhecer. Acredito que a maior importância do Mello Leitão é o seu papel na manutenção de informações da biodiversidade da Mata Atlântica, um bioma de extraordinária relevância biológica que vem sendo alterado impiedosamente nas últimas décadas.