Físico cobra políticas públicas para acesso aos museus científicos

Museu de Biologia Mello Leitão recebe grupos para falar de ciência.

Viviane Monteiro
Levar museus de divulgação científica para comunidades mais pobres e mais distantes dos grandes centros do Brasil é um dos desafios internos que precisam ser enfrentados nos próximos anos.

A opinião é do físico Ildeu de Castro Moreira, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretor do Departamento de Popularização e Difusão da Ciência do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), proferida ontem (30), último dia do 2º Encontro Preparatório do Fórum Mundial de Ciência, realizado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte.

O evento é um preparatório para a 6ª edição do Fórum Mundial de Ciência que acontecerá no Rio de Janeiro em novembro de 2013. É a primeira vez em que esse evento internacional acontece em um país fora da Europa. Os encontros são promovidos pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Academia Brasileira de Ciências (ABC), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), UFMG e MCTI, dentre outros órgãos.

Ao discorrer sob o tema “Museus e centros de ciência: espaços alternativos para difusão e acesso ao conhecimento”, o físico considerou “pequeno” o número de museus de ciência distribuídos hoje pelo Brasil.

A estimativa é de que existem cerca de 300 espaços de popularização de ciência espalhados pelo País – zoológicos, museus, aquários, planetários, observatórios e jardins botânicos – que respondem o equivalente a 10% do total de três mil museus existentes no território nacional, concentrados principalmente nas regiões Sudeste e Sul. No caso dos planetários, Moreira destacou a existência de um pouco mais de 30 centros, enquanto na Índia existem 300 planetários.

Segundo o diretor do MCTI, o público de baixa renda não visita os museus por falta de opção de acesso, o que reflete a desigualdade social nacional. Na Amazônia, por exemplo, ele disse que a distância das comunidades pobres aos espaços científicos chega a três mil quilômetros.
Moreira citou dados de pesquisa sobre o acesso aos museus brasileiros que revelam que o número de visitantes em espaços científicos subiu de 4%, em 2006, para 8,3% em 2010. Os principais acessos são aos museus de biblioteca, cujas visitas expandiram de 25% para 28,7% no período analisado.

Proposta para o Fórum Mundial em 2013 – Conforme observa Moreira, faltam políticas públicas para difusão de museus científicos no País. Aliás, declarou, que essa informação precisa fazer parte das discussões de pesquisadores, cientistas, gestores e profissionais durante a 6ª edição do Fórum Mundial no Rio de Janeiro.

“Temos de ser mais propositivos em termos de ações”, sentenciou. Sem citar números, o físico disse ser “grave” a falta de recursos para a expansão dos museus científicos no território nacional. Ele também observa a falta de pessoal qualificado para trabalhar nos espaços científicos brasileiros.

Moreira lembrou que constam de editais do MCTI algumas medidas para a divulgação cientifica e a popularização da ciência. Ele ressalva, porém: “Isso não significa dizer que existem políticas públicas para o acesso aos museus científicos no País”.

Segundo Moreira, o papel dos museus de ciência vai muito além de preservar os instrumentos científicos. Para ele, o espaço científico é um ambiente propício para acessar pesquisas e refletir sobre o conhecimento, dentre outros, e ele deve ser visto como um complemento das atividades escolares.

Desafios – Na opinião de Moreira, o Brasil precisa ampliar o número dos espaços físicos científicos, implementar medidas para aumentar o acesso do público de comunidades carentes aos museus de ciência para atingir patamares europeus até 2020. É necessário valorizar tal atividade, estimular o investimento privado no setor, formar pessoal qualificado e integrar os espaços científicos com as escolas e universidades.

Déficit na divulgação científica – No olhar de Susana Dias, professora e coordenadora do curso de Mestrado em Divulgação Científica e Cultural (MDCC) do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Unicamp (Labjor), o Brasil registra déficit na divulgação científica.

Segundo ela, a divulgação cientifica nacional é insuficiente para atender ao público, seja pelo lado do jornalismo, seja pelo o dos cientistas. A especialista defende a criação de outros modos de expressão científica. “É preciso pensar em como criar outras possibilidades para que seja possível uma participação pública na divulgação científica”, disse.

Em sua palestra sobre “O papel do jornalismo científico na educação e acesso ao conhecimento”, Susana destacou a necessidade do jornalismo científico ir além dos conhecimentos estabelecidos, como a escrita (palavras, imagem e som), da refutação e das críticas. Ela considera fundamental o jornalismo científico desbravar a relação entre ciência e vida. Ou seja, precisa representar a vida pela escrita em uma linguagem popular e atingir a todos os públicos. “A linguagem e o mundo estão conectados”, disse ela, citando nomes de vários filósofos que afirmam que a ciência precisa ir além de seus limites.

Fonte: http://www.jornaldaciencia.org.br
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