A vida selvagem em vitrine

Benoît de L’Estoile
A vida selvagem em vitrine: reflexões sobre os animais em museu

Foto: Lennette Newell

…pode-se dizer que os museus que apresentam animais “selvagens” dispõem, hoje em dia, de opções expositivas inscritas em paradigmas distintos:

  • O paradigma naturalista, no qual o animal selvagem é apresentado em uma reconstituição de seu ambiente natural, abstraindo as relações com os humanos. Essa era a forma privilegiada pelos museus de história natural tradicionais.
  • O paradigma estético, no qual se enfatiza o espetáculo da diversidade, pelo uso de cenografias e iluminações, acentuando a dimensão de deslumbramento. Atualmente, numerosos museus de história natural empregam esta opção.
  • O paradigma etnológico se esforça em restituir as concepções e os usos de animais em uma dada sociedade humana. É a intenção do museu africano de Lyon, que deixou de apresentar animais “autênticos”.
  • Por último, o paradigma relacional (correspondente à antropologia social contemporânea) preocupa-se em reconstituir as relações complexas envolvendo animais, tecidas ao longo do tempo, entre a Europa e os outros continentes.Em um museu ideal, esses diversos paradigmas não seriam, necessariamente, excludentes, mas poderiam ser combinados de maneira criativa para satisfazer o espírito e os sentidos do visitante.

Uma vez que o museu de história natural e seu herdeiro – o museu de etnologia – foram em grande medida caracterizados por desconsiderar a história, um dos desafios futuros seria reintroduzir a historicidade e as relações sociais.

O que me parece particularmente promissor é privilegiar o tema da relação a partir de suas múltiplas variações. Esse tema diz respeito não apenas às relações complexas entre mundos humanos e mundos animais, mas também as relações que foram tecidas nos contextos colonial e pós-colonial, entre europeus e africanos, no tocante ao mundo animal.

Nesse sentido, restabelecer numa perspectiva não comemorativa, porém histórica e reflexiva, um questionamento sobre a caça colonial, o tráfico de marfim, os safáris, ou sobre as implicações da “conservação” de animais em parques na contemporaneidade, na África ou em outro lugar, parece oferecer uma pista fecunda para novas colaborações entre antropólogos e museus.

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Benoît de L’Estoile Antropólogo, pesquisador do CNRS/Paris e professor na École Normale Supérieure (Paris). Autor de Le goût des Autres: De l’Exposition coloniale aux Arts premiers(Flammarion, 2007 ; edição de bolso. 2010) e coautor de Antropologia: imperios e Estados nacionais(Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002) e Ocupações de terra e transformações sociais (Rio de Janeiro: FGV, 2006).

Fonte: http://www.revistaproa.com.br
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