O SiBBr na visão dos pesquisadores – I

20130531Os US$20.000.000,00 obtidos para o projeto de gerenciamento e uso das informações sobre coleções científicas brasileiras teriam sido melhor empregados na manutenção, ampliação e proteção das coleções científicas.

Mesmo se considerarmos que estes recursos obtidos pelo Brasil junto ao GEF e PNUMA devam ser direcionados à divulgação dos dados das coleções cientificas, penso que seria melhor investir em redes de computação e sistemas nas instituições que efetivamente assumem o ônus de manter estas coleções.

Parece inapropriado destinar dados e recursos financeiros a uma entidade privada, não governamental, que não assume compromissos com a manutenção das coleções.

Os recursos destinados às coleções científicas através dos pesquisadores que elaboraram projetos para o SiBBr foram destinados exclusivamente à migração dos dados para fora das instituições, sendo vedado seu uso na manutenção das coleções propriamente ditas.

Ainda que a destinação de recursos financeiros possa ser justificada em termos de eficiência empresarial e tecnológica, a migração de dados públicos para uma plataforma única mantida por uma organização privada cria a necessidade de manutenção a longo prazo desta mesma plataforma.

O Governo Brasileiro e as instituições e pesquisadores usuários das coleções científicas ficarão reféns da instituição mantenedora do SiBBr, da mesma forma que o Ministério da Educação, através da CAPES, permanece refém das editoras multinacionais que publicam os periódicos científicos de maior interesse.

O Governo respondeu à esta preocupação através da inclusão do Laboratório Nacional de Computação Científica entre os parceiros do Projeto. Resta saber se o LNCC efetivamente assumira o papel de mantenedor do SiBBr, ou se sua função se resumirá a aplacar a crítica da comunidade científica, que considera que dados públicos devem permanecer no domínio público. A inoperância do formulário de busca de dados na página do “repositório de dados” do SiBBr e a forma como o edital do SiBBr foi modificado pelo CNPq após sua publicação sugerem que a segunda opção poderá prevalecer.

Paulo A. Buckup

O Dr. Paulo Andreas Buckup é Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde atua como orientador no Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas (Zoologia), como pesquisador em biodiversidade molecular e como curador da coleção de peixes do Museu Nacional da UFRJ. Foi Presidente da Sociedade Brasileira de Ictiologia. Com doutorado realizado entre 1981 e 1985 na University of Michigan e pós-doutorados no Field Museum of Natural History e na Philadelphia Academy of Natural Sciences, é Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq – Nível 1D e assessor de vários periódicos e órgãos de fomento à pesquisa do CNPq. Foi um dos responsáveis pela implantação do Projeto NEODAT entre as instituições brasileiras, um dos projetos pioneiros em informação sobre banco de dados de peixes pela Internet.

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  1. Creio que não há unanimidade entre os pesquisadores no que tange a esse tema. Eu acho que as duas coisas devem andar paralelamente. Investir na manutenção da infraestrutura das coleções não deve ser uma pré-condição para a disponibilização pública dos dados nem vice-versa.

  2. Como todo o investimento de recurso, o melhor é ter o maior envolvimento possível da sociedade. Isso é positivo. Abrir o debate para a participação coletiva é o primeiro passo no processo. O Sérgio foi muito feliz quando disse: “Investir na manutenção da infraestrutura das coleções não deve ser uma pré-condição para a disponibilização pública dos dados nem vice-versa.” O recurso do SiBBr tem o objetivo de criar um portal para agilizar a publicação dos dados de biodiversidade brasileira. Mas vai ser muito mais que isso. Deve acabar se associando de alguma maneira ao INDE para o cruzamento de dados socieconômicos, deve conseguir prover uma ferramenta de modelagem de nichos ecológicos junto ao SINAPAD, pode contribuir para o avanço das pesquisas de taxonomia ligadas ao Barcode of Life, entre outros. É um projeto benéfico, que não pode ser culpado pela falta de investimento em outras problemáticas da área. O que deve ser cobrado é que a aplicação desse recurso seja concluída com sucesso, proporcionando essa grande ferramenta de integração de dados, que está em plena conformidade com as políticas internacionais, inclusive de governança. O envolvimento de laboratórios de pesquisa, universidade, autônomos e iniciativas privadas é positivo. O projeto é aberto e produzirá artefatos de software abertos e livres. Essa é a inclinação, e é nesse sentido que o projeto deve caminhar. É isso que devemos garantir.

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