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Mesmo se considerarmos que estes recursos obtidos pelo Brasil junto ao GEF e PNUMA devam ser direcionados à divulgação dos dados das coleções cientificas, penso que seria melhor investir em redes de computação e sistemas nas instituições que efetivamente assumem o ônus de manter estas coleções.
Parece inapropriado destinar dados e recursos financeiros a uma entidade privada, não governamental, que não assume compromissos com a manutenção das coleções.
Os recursos destinados às coleções científicas através dos pesquisadores que elaboraram projetos para o SiBBr foram destinados exclusivamente à migração dos dados para fora das instituições, sendo vedado seu uso na manutenção das coleções propriamente ditas.
Ainda que a destinação de recursos financeiros possa ser justificada em termos de eficiência empresarial e tecnológica, a migração de dados públicos para uma plataforma única mantida por uma organização privada cria a necessidade de manutenção a longo prazo desta mesma plataforma.
O Governo Brasileiro e as instituições e pesquisadores usuários das coleções científicas ficarão reféns da instituição mantenedora do SiBBr, da mesma forma que o Ministério da Educação, através da CAPES, permanece refém das editoras multinacionais que publicam os periódicos científicos de maior interesse.
O Governo respondeu à esta preocupação através da inclusão do Laboratório Nacional de Computação Científica entre os parceiros do Projeto. Resta saber se o LNCC efetivamente assumira o papel de mantenedor do SiBBr, ou se sua função se resumirá a aplacar a crítica da comunidade científica, que considera que dados públicos devem permanecer no domínio público. A inoperância do formulário de busca de dados na página do “repositório de dados” do SiBBr e a forma como o edital do SiBBr foi modificado pelo CNPq após sua publicação sugerem que a segunda opção poderá prevalecer.
O Dr. Paulo Andreas Buckup é Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde atua como orientador no Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas (Zoologia), como pesquisador em biodiversidade molecular e como curador da coleção de peixes do Museu Nacional da UFRJ. Foi Presidente da Sociedade Brasileira de Ictiologia. Com doutorado realizado entre 1981 e 1985 na University of Michigan e pós-doutorados no Field Museum of Natural History e na Philadelphia Academy of Natural Sciences, é Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq – Nível 1D e assessor de vários periódicos e órgãos de fomento à pesquisa do CNPq. Foi um dos responsáveis pela implantação do Projeto NEODAT entre as instituições brasileiras, um dos projetos pioneiros em informação sobre banco de dados de peixes pela Internet.